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O Globo reconhece o favoritismo de Lula das pesquisas, admite que a 3a via não existe e aproveita para atacar o ex-presidente, classificando-o de camaleão por aquilo que Lula tem de melhor: a capacidade de diálogar com os diversos setores da sociedade.
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Não se pode esperar nada do Globo, mas vale ler o que eles dizem para entender como de fato são.
Aqui o editorial na íntegra:
É óbvia a principal conclusão das pesquisas Ipec e Datafolha divulgadas nesta semana: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva larga como favoritíssimo a vencer a eleição presidencial do ano que vem. Na sondagem espontânea, a mais relevante a esta altura da corrida, Lula soma 40% das preferências na primeira e 32% na segunda, ante 20% e 18% para o segundo colocado, o presidente Jair Bolsonaro.
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São números suficientes para, se não liquidar a eleição no primeiro turno, no mínimo entrar no segundo contra um candidato com rejeição bem maior.
O desafio dos marqueteiros
Claro que é cedo para fazer prognósticos, mas um fato se destaca nas pesquisas: apenas um terço do eleitorado não manifesta preferência espontânea, nível historicamente baixíssimo para dez meses antes da eleição, quando a campanha nem começou. O principal desafio dos marqueteiros políticos — em particular os associados a candidatos da terceira via entre Lula e Bolsonaro — não será, portanto, conquistar eleitores indefinidos, mas desfazer preferências aparentemente consolidadas, seja por um, seja pelo outro. Não será nada trivial.
Se o favoritismo de Lula é óbvio, menos óbvio é outro enigma: qual Lula? O ex-presidente sempre se comportou como um camaleão político. Adota coloração cinzenta quando discute as pedras no caminho da economia, esverdeada quando fala nas florestas a líderes internacionais ou avermelhada quando discursa diante das bases petistas. Nas últimas eleições, tinha de derrotar o antipetismo, agora terá de aglutinar os vários tons de antibolsonarismo. Pode não ser tão simples.
O primeiro obstáculo são os escândalos de corrupção que pesam contra o PT. Se Lula se livrou dos empecilhos jurídicos, jamais se livrará dos fatos que serão relembrados na campanha, em especial pelo ex-juiz Sergio Moro, outrora seu algoz e hoje rival na urna. Até agora, nem Lula nem o partido deram resposta convincente à questão. Acusar uma fantasiosa conspiração política pode funcionar para a plateia avermelhada, não para os votos que se aproximam dele por falta de opção contra Bolsonaro — e que podem abandoná-lo se aparecer alternativa melhor.
O segundo obstáculo é mais importante: qual o programa de Lula? Em seu governo, ele foi beneficiado por uma maré favorável: quadro monetário e fiscal estável em razão do Plano Real, alta nos produtos exportados pelo Brasil, descoberta do petróleo do pré-sal e abundância de capital em busca de oportunidades no planeta. Desta vez, a economia global emerge da pandemia num cenário plúmbeo, a credibilidade brasileira foi lançada na sarjeta por Bolsonaro e pelo Centrão, o descontrole fiscal é profundo, a inflação despertou, e não há mágica capaz de pôr o país em ordem sem medidas dolorosas.
A aproximação do ex-tucano Geraldo Alckmin pouco significa em termos de programa. Alckmin se tornou inexpressivo, rifado pelo PSDB no reduto que dominava. Diante do risco de perder a eleição para governador, natural que prefira entrar numa campanha com chance de vitória. Para Lula, é inofensivo, já que a Vice-Presidência tem influência mínima e nenhum poder.
O talento camaleônico de Lula sempre funcionou para que se adaptasse a cenários diversos. Desta vez, ele tenta usá-lo para atrair públicos de colorações distintas. O maior risco para ele é a soberba diante dos números favoráveis — errar no disfarce pode ser fatal. Para o país, a dúvida é: qual será sua cor real?